sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Separando os papéis e evitando conflitos - Por Alexis Novellino

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As relações interpessoais familiares são geralmente mais duradouras em empresas que foram criadas e são controladas por uma família que se desdobrou em muitas gerações. O convívio entre entes queridos que trabalham na empresa também é mais intenso pelo maior tempo em que passam juntos. Essa intimidade natural pode ser um aspecto positivo para a empresa, mas em muitos casos também acaba atrapalhando: as relações pessoais podem se confundir com as profissionais, prejudicando o bom andamento do negócio e o próprio relacionamento familiar.

Práticas comuns como discutir na frente dos funcionários como se discutiria em casa faz com que a credibilidade dos familiares entre os funcionários fique abatida. O respeito que o filho tem pelo pai também pode muitas vezes impedir alguma contestação que poderia ser positiva para a empresa. É difiícil para um pai perceber que seu filho o supera em algumas áreas, mesmo não tendo grande experiência , ou para um filho perceber que além de aprendiz, ele pode saber muito mais que seu pai. A relação com funcionários não familiares pode também ser afetada, já que o filho do dono consegue ser mais influente, nem sempre por sua capacidade administrativa. Tudo isso é ruim para o filho, ruim para o pai e péssimo para a empresa.

Para contornar problemas como esses, a empresa Brasilsul, uma das maiores fabricantes de roupas esportivas do país, sempre prezou a impessoalidade profissional nas relações entre familiares que ali trabalham. Uma das filhas da fundadora proprietária Heloísa Aguiar, no início de sua carreira na empresa, mal se dirigia direto a mãe durante o trabalho. Quando chegava na empresa, sua linguagen e postura em relação a sua mãe eram totalmente diferentes. Obrigava-se a chamar Heloísa pelo seu nome e não de “mãe”. São atitudes pequenas, mas que em um ambiente empresarial fazem toda a diferença. Não há aqui o desaparecimento do lado afetivo de uma filha em relação a sua mãe ou vice-e-versa, mas a distinção clara de papéis diferentes em diferentes situações.

Esse distanciamento provisório em situações profissionais pode evitar maiores conflitos que confundam as esferas “família” e “empresa”. Existe uma história antiga que ilustra bem os problemas na confusão de papéis entre familiares na empresa. Ela fala de uma empresa familiar bem sucedida no leste dos Estados Unidos, dirigida por um proprietário-fundador dinâmico e visionário. Com ele, trabalhavam três filhos: os dois mais velhos eram dedicados e competentes, e o mais novo, amigável mas que não conseguia trabalhar regularmente e ter um resultado estável. Quando o pai descobriu do péssima envolvimento do caçula com a empresa, não soube imediatamente que atitude tomar. Decidiu chamar o filho para uma conversa séria em casa. Começou dizendo que possuir uma empresa significava usar chapéus diferentes. “Vou começar pondo meu chapéu de Diretor-Executivo”, disse ele. “Meu senhor, seu supervisor me alertou sobre seu mal desempenho ao longo do ano passado. Sinto muito, mas está despedido.” O filho ficou assustado e com olhar cabisbaixo. O pai continuou a falar: “Espere. Agora tenho que pôr meu chapéu de pai.” Depois de uma pequena espera, continuou: “Filho, fiquei sabendo que você foi despedido. O que posso fazer para ajudá-lo?”.

Responder ao problema de duas maneiras distintas, uma como familiar e outra como chefe, foi uma forma sincera e correta de responder a um problema que exigia papéis diferentes de uma mesma pessoa. A diferenciação foi essencial para o fundador agisse corretamente como chefe, despedindo o empregado sem bons resultados, e como pai, de uma forma compreensível e afável. Trocar o chapéu pode ser uma boa saída para o desafio de redefinir funções de cada parente na empresa, contornando conflitos e confusões.